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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

“Severino” no futebol, Cátia Oliveira dribla revolta e brilha no tênis de mesa


Tetraplégica após acidente de carro no dia em que foi convocada para Mundial sub-17 nos gramados, paulista é campeã parapan-americana individual e jogará por equipes


Cátia tinha fome de bola. Era meia de origem, mas estava acostumada a ser escalada em outras posições. Se o time precisava, lá ia a menina quebrar o galho e socorrer o treinador. A carreira promissora ganharia seu capítulo mais feliz até então em um dia em que o destino pregou uma peça daquelas. Horas antes do nome da paulista aparecer na lista de convocadas para a seleção brasileira que disputaria o Mundial sub-17 de 2007, um acidente de carro a deixou tetraplégica. Após anos de revolta e reabilitação, hoje ela é campeã pan-americana de tênis de mesa e tem vaga garantida nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro.


Nascida em Cerqueira César, cidade com menos de 20 mil habitantes no interior de São Paulo, Cátia mostrou habilidade com a bola nos pés desde muito cedo. Gostava de atuar na armação, vez ou outra se arriscava no ataque, mas topava qualquer desafio. Jogava por Botucatu quando foi convocada para a seleção para jogar no Mundial como... zagueira.
- Eu era meia, mas joguei de tudo, lateral esquerda, lateral direita... Fui tudo menos goleira, era bem curinga mesmo. Meu time tinha sempre muitas meninas na seleção, aí eu ficava de “Severino quebra galho”. Era um tal de “Cátia, vai para lá. Vem pra cá”. Eu ia. Mas era meia. Aqui falam que eu tenho cara de quem era atacante, porque gosto de bola rápida, forte, para definir logo.
A mudança de modalidade levou anos para acontecer e foi motivada por uma tragédia. Cátia tinha 16 anos e dormia no banco de trás de um carro dirigido por uma colega de equipe que não portava habilitação. De acordo com a ocorrência policial, a motorista, também menor de idade na época, perdeu o controle na rodovia Geraldo Pereira de Barros, próximo à cidade de São Manuel, e bateu na traseira de outro veículo. Lançada para a frente com o impacto, a Cátia sofreu um trauma na coluna e ficou tetraplégica. Durante a recuperação, realizada em parte em um hospital da Rede Sarah, Cátia teve contato com várias modalidades paralímpicas, mas não se empolgou. A frustração, naquele momento, foi pesada demais para uma menina cheia de sonhos.
Seis anos depois de tornar-se cadeirante, já mais madura, Cátia sentiu sua veia competitiva pulsar forte mais uma vez. Em uma feira internacional de tecnologias em reabilitação, a paulista viu que o tênis de mesa era uma possibilidade interessante.
- Quando eu vi, me toquei de que só precisava de uma mesa e outra pessoa, que nem precisava ser cadeirante. Era a oportunidade de voltar para o esporte, que era algo de que eu estava sentindo falta. Sempre tive vontade de defender o meu país e sempre fui apaixonada por futebol, foi o esporte que escolhi. Infelizmente sofri o acidente, não queria mais nada com nada por não poder fazer o que eu mais gostava. Só que passou um tempo e eu queria voltar a fazer. Nem tinha a cabeça de voltar a ser atleta profissional, mas com o tênis de mesa vi que dava.
Cátia chegou à seleção em 2013. Mudou-se para Brasília para viver em período integral em função da nova modalidade. E a dedicação rendeu frutos. No domingo, ela sagrou-se campeã parapan-americana da classe 1-2 e garantiu vaga nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira, ela compete pela prata na prova por equipes.
- Não tenho palavras para descrever, foi uma felicidade que não cabia em mim ganhar no individual, ainda mais valendo vaga para as Paralimpíadas. Vamos ver agora por equipes. Vamos trabalhar para isso.