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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Trocar futsal por campo atormenta crianças nos clubes


Sempre que um craque desponta nacional e internacionalmente, aparecem vídeos dele ainda criança, enfileirando marcadores, marcando gols e correndo para as câmeras ainda amadoras. Assim foi com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e recentemente com Neymar. O começo no futsal, então, é exaltado como o primeiro passo no esporte, para depois ocorrer a transição para o milionário e glamuroso mundo do futebol.

Essa mudança de modalidade, contudo, não é tão tranquila como parece. Há muitos anos, gestores e treinadores de futebol e futsal travam uma disputa nos bastidores para tentar trazer a criança para o seu lado. O jovem, com isso, é quem mais sofre, sendo inclusive ameaçado de dispensa em muitos dos casos.

A reportagem do ESPN.com.br conversou com os quatro grandes clubes de São Paulo, além de pais e ex-atletas. Todos confirmaram a existência da rixa, que acaba prejudicando, acima de tudo, a qualidade de formação do jogador de futebol brasileiro.
"Estamos perdendo muitos talentos, se não todos. William (do Chelsea) passou por aqui, Marquinhos (do PSG ) passou por aqui, tenho mais 300 exemplos. Antigamente jovens jogavam os dois (esportes) até juvenil, só saia quando estourava mesmo", disse Ricardo Gomes, diretor das categorias de base do futsal do Corinthians.

A afirmação de Gomes é comprovada por Zé Elias, ex-jogador do Corinthians e que atuou pela GM no futsal. "Dois dias antes de estrear pelo Corinthians no profissional, fiz meu último jogo no futsal", relatou.

Diretor das categorias de base do futsal do Santos, José Alexandre Fiuza, o Barata, diz que teve conhecimento da importância do futsal no início da década de 90, quando Isaias Tinoco, diretor do Flamengo, investiu na modalidade e viu surgir nomes como Djalminha, Nélio e Marquinhos.

Para Ricardo Gomes, os empresários e os pais acabam sendo responsáveis por tirar o atleta do futsal. "Se depender dos meninos, quando crianças, sub-11 e sub-13, eles preferem jogar futsal. Eles pegam mais na bola, participam. Um zagueiro do sub11 do campo do Corinthians pega uma vez na bola em todo o jogo. Salão é tomada de decisão, drible, técnica, e eles perdem isso", relatou o dirigente.

Primeiro semestre foi exemplo
Apesar de confirmarem o conflito, todos negam que isso exista em seu respectivo clube. Os casos apurados pela reportagem comprovam contudo a existência de divergências. Santos e Portuguesa, por exemplo, ‘esqueceram' o futsal no primeiro semestre e com isso não levaram seus times as finais do Campeonato Metropolitano. O time de Baixada Santista proibiu os atletas do time de futebol a atuarem nas quadras, e com isso não obtiveram sucesso.

O São Paulo também proibiu as crianças de Cotia a jogarem futsal pelo clube tricolor. Com isso, acabaram provando do próprio veneno, já que sete atletas do sub-12 foram para o Taboão da Serra e acabaram eliminando o time são-paulino no mata-mata do torneio. "Ainda deixamos eles jogar contra a gente. Tem time que proibe quando ocorrem estes casos", explicou o diretor da base do São Paulo, Marcos Antonio Parezes.

Com um profissional responsável por fazer a transição e organizar os respectivos interesses, o Palmeiras sobrou e venceu quatro das cinco categorias do Metropolitano. "Não posso reclamar da relação, só temos problemas quando batem as competições, daí se prioriza o momento", disse o diretor das categorias de base do futsal palmeirense, Karan Seres Junior.