Beatriz
Zaneratto é uma atleta Brasileira que joga futebol feminino na Coreia do Sul.
Ela também
funciona como parte de uma equipe e trabalha arduamente para se tornar a futura
camisa 10 da Seleção Brasileira principal. Acompanhem a história dessa menina
atleta, que apesar da força e da altura, impressiona a todos pela sua meiguice.
O bom
desempenho do futebol feminino oriental em campeonatos de grande visibilidade
como o mundial e as olimpíadas aliado à grande concentração de jovens em países
como a Coreia poderia explicar a mudança na mentalidade dos dirigentes locais
para investir em esportes de massa. Nesse quesito, o futebol pode ser
considerado como a porta de entrada para a felicidade.
Foi para
Coreia e na mente levou um sonho: “disputar a olimpíada de 2016, que será
realizada no Brasil. É um sonho que espero concretizar. Este sonho está nas
mãos de Deus e no meu trabalho”.
Nascida na
pequena cidade de Araraquara, a 300 km da capital São Paulo . Acostumada a
enfrentar desafios, era artilheira nas equipes em que jogava, mesmo
participando de campeonatos com meninos. Sentia prazer em superar obstáculos,
chegando à condição de titular de uma equipe composta só por meninos, além da
condição de artilheira aos 7 anos, mantendo sempre uma coisa em mente: “ser
jogadora de futebol”.
Beatriz é
religiosa e credita a Deus o dom de jogar futebol. Tentou se adaptar a outros
esportes como vôlei, por exemplo, mas não se adaptou, pois o futebol sempre
falou mais alto. E não faltou apoio para que voltasse a fazer o que realmente
amava: “o futebol é o que dá sentido a minha vida. Não me vejo fazendo outra
coisa a não ser jogar futebol”.
Que a
família é o pilar de qualquer ser humano não há dúvidas. Mas, acompanhar a
filha em viagens para assistir seu jogo ao lado de meninos é raro e mostra a cumplicidade
entre seres que se amam. Observem as palavras de Bia:
“Minha mãe
tinha o sonho de que eu fosse bailarina, e isso nunca passou pela minha cabeça,
mas era o sonho da minha mãe. Independente da minha vontade, sempre me apoiou
em toda e qualquer situação. Sempre foi presente e minha fiel companheira,
mesmo não gostando de futebol, estava ao meu lado”
Pelo pai, um
carinho especial. Seu João é o esteio, o coruja, o torcedor que gritava à beira
do campo, seu fã número 1:
“Meu pai foi
meu grande incentivador, sempre acreditou em meu potencial, tinha prazer em me
ver jogar. Sempre foi meu conselheiro, falava como tinha que fazer, ficava
grudado no alambrado vibrando a cada jogada, o famoso treinador e pai babão”
Bia é o
típico ser humano que nasceu para superar barreiras. Explico: ela quer
transformar as dificuldades da vida em motivação, a dor em prazer, buscando o
alcance de objetivos. O amor pelo esporte contrasta com a instabilidade no
futebol feminino. A luta incessante as transforma em “guerreiras”, e não as
deixa desistir.
Querem
exemplo mais claro? Bia chegou à equipe principal da Ferroviária aos 13 de
idade, jogando contra adultas com experiência internacional e mesmo assim não
se sentiu amedrontada. A maior prova – sua convocação para seleção sub 17. Como
tem personalidade essa menina!
Ao chegar à
seleção sub 17 com 13 anos, mostrou habilidade. Chutando com a perna esquerda,
recebeu a camisa 10, e as comparações se tornaram inevitáveis: substituta da
Marta? Pensaram que iria se abater, ledo engano. Bia não via a seleção como um
sonho até chegar à Granja Comary. Achava algo distante, fora da realidade.
Seu João,
seu pai, era o que mais acreditava e sempre afirmava: “você será a camisa 10 da
seleção”. Previsão correta, a menina chegou se adaptou e jogou, mais o que
pensou? Observem:
“A seleção
era algo surreal para mim. Só queria aproveitar o momento que Deus estava me
dando e fazer o melhor. Aquele momento não poderia mudar o meu comportamento,
nunca me achei melhor do que ninguém. A humildade é a base sólida da vida”
Os gestos
responsáveis como acordar cedo, estudar e depois treinar, fizeram-na referência
na escola, pois todos achavam incrível, pediam autógrafos. Era uma sensação
diferente, engraçada, pois Bia não se imaginava dando autógrafos aos próprios
amigos. Todos achavam o máximo ela estar na seleção.
Nem o rótulo
de futura substituta de Marta a fez mudar. Beatriz entende que Marta é um mito
do futebol feminino, e tem plena consciência de que não haverá ninguém que a
substitua e continua:“Marta é o marco da modalidade, a “rainha”, portanto não
existe comparação”. Bia está procurando escrever sua própria história.
Tudo ao seu
tempo. Bia teve grande destaque nas categorias sub 17 e sub 20 da seleção
Brasileira. Já na seleção adulta, teve poucas oportunidades, o que é natural
para uma atleta que sempre jogou com idade inferior à sua categoria.
Independente
do que vier acontecer com a seleção, o atleta precisa estar preparado e pronto
a servir a seleção.
Depois de
defender a equipe da Ferroviária por anos e sempre com destaque, Bia encarou um
novo desafio: no ano de 2010 foi defender as “Sereias da Vila”.
“Foi um ano
único para mim, ano de grandes conquistas, muitos jogos, reconhecimento,
visibilidade. A equipe Santista era o time mais badalado no futebol feminino
naquele ano, e foi importante fazer parte da história do clube. Algo que me
deixou muito triste foi o fim da modalidade. Um excelente time, estruturado,
mas infelizmente o mundo do futebol feminino no Brasil é assim. Um clube se
forma e outro acaba, parece a lei da poda”
Como o
futebol feminino no Brasil não oferece estabilidade, após receber a proposta
Coreana, leiam o que esta menina de apenas 20 anos pensou:
“A primeira
coisa que pensei foi na minha família, pois a distância seria a maior
dificuldade. Imaginei que não conseguiria. Minha família sempre foi e sempre
será a minha fortaleza, eles me encorajam a viver essa loucura em busca de
novos objetivos. E sob o lado profissional, é gratificante ver o meu talento
reconhecido do outro lado do mundo. Quando optei por assinar contrato com a equipe
Coreana, me entreguei de corpo e alma a essa aventura. A vida é feita de
escolhas e eu resolvi aproveitar a oportunidade que o futebol me deu”
Como fala
fácil essa menina. Com essas palavras, percebemos que é feliz. E não se
impressionem a adaptação ao novo país, à cidade e ao povo recebe uma colocação
especial:
“O começo
sempre é difícil, tudo é diferente: o clima, à distância, a cultura,
alimentação. Mas aos poucos fui me acostumando, adaptando meu estilo de jogo ao
deles. A cidade que moro se chama Incheon, e o nome do clube é Hyundai Steel
Red Angels”
Apesar de
ser pentacampeão no futebol masculino, o futebol feminino do Brasil não tem
nenhum título mundial e nenhuma medalha de ouro olímpica. Ainda é considerado
pelos brasileiros um esporte de homens. Marta é uma exceção a essa regra e
seria muito bom se houvesse o apoio da iniciativa privada, para alavancar o
futebol feminino no Brasil.Bia nos fala como faz para se comunicar no clube e
no país onde mora e joga:
“A
comunicação com as atletas é feita por meio das mímicas, às vezes sai umas
palavras em coreano, mas é um idioma difícil e diferente de tudo. Tenho uma
tradutora e isso facilita, mas quando não estamos com ela, fica complicado.
Para elas parece mais fácil aprender o português do que eu aprender o coreano”
Em conversa
via internet, fiz a seguinte pergunta. O seu futebol evoluiu na Coreia? Vejam a
resposta:
“Evoluí o
meu cabeceio, as coreanas são altas e tive que melhorar, era necessário.
Melhorei também meu passe e movimentação. É um futebol rápido, com muitas
trocas de passe e movimentação, ou seja, o futebol Coreano é dinâmico e
técnico”
Avancei no
questionamento e perguntei que lição o futebol Coreano poderia acrescentar para
o futebol feminino Brasileiro. Observem a ousadia:
“Uma lição
seria o comprometimento, pois aqui na Coreia existem pessoas dedicadas e
querendo que o futebol feminino cresça. Os diretores comparecem aos estádios,
os campos são de alto nível. Os times têm ônibus próprio, com o logotipo do
time, material de primeira qualidade, campos bons para treinamento, é outra
realidade se comparado ao Brasil. Isso deveria ser normal em nosso país”
Deveria ser
normal, mas não é e por isso o futebol Asiático, Americano, Europeu, pedem
passagem para o futebol feminino Brasileiro. Elas avançam e nós ficamos
estagnados. Com relação ao futuro do futebol feminino no Brasil, Bia fala o que
pensa:
“Eu quero
acreditar que o futebol feminino no Brasil vai melhorar que as coisas
acontecerão positivamente e haverá interesse por parte de quem comanda a
modalidade, como empresas, mídia e patrocinadores. Com a estrutura que
temos hoje no Brasil, fica difícil ter uma formação correta, mas sempre existe
o algo mais, o querer, a busca, fazer as coisas acontecerem. Quem tiver a
oportunidade de seguir para o exterior vá, será uma grande escolha”
“Faz-se
necessário um futuro mais tranquilo, mas esta tomada de decisão envolve muita
coisa. Porém uma coisa eu aprendi: se pensarmos muito há possibilidade de
desistir por medo do que virá. Eu escolhi arriscar. Para aqueles que trabalham
as portas sempre irão se abrir, precisamos ter coragem, pois assim teremos resultados”
Mensagem
para as meninas que pretendem iniciar no futebol:
“Deixo o meu
recado dizendo que nada é impossível quando nos dedicamos de corpo, alma e
coração. Precisamos acreditar que somos capazes e não importa o que digam e o
quão estranho acham o que você faz. Se você ama jogar futebol, não desista
deste sonho, desse amor, dessa paixão. Aproveite e faça valer a pena cada
oportunidade que surgir em sua vida, faça das dificuldades a sua motivação, não
deixe que as dificuldades a impeçam de lutar, de se superar sempre. Os
obstáculos fazem parte da trajetória do vencedor. Só alcança o sonho aquele que
não desiste independente das dificuldades”